“O Modelo Centralista dá sinais de falência, de incompetência”, uma entrevista do JN a António Cunha
Divulga-se uma entrevista ao Prof. António Cunha, Presidente da CCDR-N e Associado da ACEC, publicada no Jornal de Notícias (JN)
Associação Círculo de Estudos do Centralismo
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Construída em pleno Douro Internacional, na fronteira entre Portugal e Espanha, a Barragem de Miranda do Douro, concluída em 1960 foi a segunda barragem edificada sobre o rio Douro em território nacional. Demonstrativo da diversidade do interior do país, este exemplar da arquitetura industrial apresenta um pano murário de 263 metros de largura e 80 de altura. Em conjunto com as barragens do Picote e da Bemposta assumem-se como uma nova conceção de arquitetura, introduzem na paisagem predominantemente natural uma marca temporal e visual.
O Castelo e antiga cidadela de Bragança encontram-se implantados numa posição elevada, no alto da colina da Nossa Senhora do Saldão. A D. Sancho I deve-se o primeiro foral concedido a Bragança, bem como a edificação do castelo, como forma de consolidar a fronteira e estabelecer um centro de influência numa zona periférica do reino. O núcleo amuralhado, um dos «mais harmoniosos e bem preservados de Portugal» (BOTELHO In Românico Digital), apresenta uma malha urbana de raiz marcadamente medieval, que se caracteriza pelas vias estreitas e tortuosas. No início do século XX recebeu um arranjo urbanístico, com a abertura de um terreiro junto à Domus Municipalis. É de destacar esta última, como um raro exemplar de arquitetura civil na Península Ibérica, albergando no seu interior uma cisterna e, no piso superior, um espaço de reunião, tendo servido ao conselho municipal.
BOTELHO, Maria Leonor (s/d). Castelo de Bragança. Disponível: aqui.
O Espaço Miguel Torga (Sabrosa) nasce em 2011 como um centro cultural, de arte e literatura, com a missão de perpetuar a obra do escritor que lhe dá nome, um dos mais relevantes autores do século XX em Portugal. A profunda ligação de Miguel Torga ao Douro está presente na forma como o espaço se compromete com a projeção e difusão da identidade deste território. Esta é, desde logo, sublinhada pelo próprio edifício, na forma como a expressão da arquitetura contemporânea de Eduardo Souto Mouro, se funde com a paisagem vitivinícola, enfatizando os muros de xisto que acompanham os contornos suaves do edifício e definem a sua imagem.
Situada no extremo norte de Portugal, na fronteira com Espanha, a freguesia de Fiães (Melgaço) acolhe o Mosteiro de Santa Maria de Fiães. Conforme os preceitos de São Bernardo de Claraval, o mosteiro é implantado num local isolado, propício à meditação. Com início no primeiro quartel do século XIII, deste período de edificação cisterciense apenas se conserva a cabeceira da igreja românica de Santa Maria, tendo desaparecido o restante complexo monástico. Além da própria arquitetura, a presença da Ordem de Cister fica marcada pela representação das suas armas, que podemos observar na fachada principal.
O clima frio e seco da Terra Fria propiciou o desenvolvimento da criação columbófila na região de Bragança. Caiados de branco, sobressaem nas encostas verdejantes próximas da aldeia de Cova da Lua um conjunto de pombais em forma de ferradura. Representativos da tipologia construtiva predominante na região de Bragança – Vinhais, nos pombais de Cova da Lua podemos observar como a construção responde à função, nomeadamente a cobertura de um só água dividida em dois ou três lances, de modo a possibilitar as saídas de voo. Por sua vez, a entrada das pombas é feita por orifícios existentes na justaposição entre as paredes e a cobertura.
Edificado na planície alentejana, o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa (Crato), resulta de um compromisso entre a arquitetura religiosa e militar, sendo esta a mais importante igreja-fortaleza em Portugal. Foi construído na primeira metade do século XIV, a mando do prior da Ordem do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira, com a finalidade de ser a nova sede da Ordem. Atualmente, os três edifícios que integram o complexo, são representativos das marcas deixadas por diferentes períodos, entre os quais se destaca a adaptação parcial do complexo a alojamento turístico, pontuando o edifício com um marcado caráter contemporâneo.
A Burel Factory nasceu na Serra da Estrela (Manteigas), com o propósito de preservar e revitalizar um património industrial em desaparecimento – a fábrica de Lanifícios Império – e dar continuidade ao conhecimento da indústria de lanifícios enraizados na cultura e identidade do lugar. Apostaram, assim, na lã e no burel, perpetuando o saber-fazer – urdir, cardar, fiar e tecer a lã e o burel – dando, deste modo vida e continuidade às máquinas do século XIX. A missão transcendeu a finalidade comercial, destacando-se como agente-modelo ao fomentar a transmissão de conhecimento entre gerações e instigar a formação de novos mestres dos teares. De modo a adequarem o projeto às exigências contemporâneas, aliaram à manutenção da cultura local, uma visão sustentável, inovando através do design, pelo que aos padrões tradicionais, acrescentaram cor.
O Santuário de Panóias (Vila Real) foi mandado construir pelo senador romano Caius Calpurnius Rufinus, na transição do século II para o século III. Deste santuário são testemunhas as cavidades e as escadas talhadas nos penedos, sobre os quais se erigiam três templos de pequenas dimensões, entretanto desaparecidos. As inscrições em grego e latim que subsistiram à erosão do tempo, permitem-nos conhecer a origem e dedicação do santuário, bem como compreender o uso dado às cavidades de tamanhos diversos. Estas eram, portanto, palco de rituais de iniciação e depreendiam um itinerário definido e sequencial: «a matança das vítimas, o sacrifício do sangue, a incineração das vítimas, o consumo da carne, a revelação do nome da autoridade máxima dos infernos, e por fim a purificação» (DRCN)
DRCN. Santuário de Panóias. Disponível aqui.
No Palácio de Mateus (Vila Real) o visitante é acolhido por uma paisagem ímpar, a fachada da Casa e da Capela enquadradas pelo jardim circundante do parque e a sua imagem duplicada pelo espelho de água fronteiro à Casa. O impacto imediato, prolonga no tempo a desejo de António José Botelho Mourão, 3º Morgado de Mateus, que mandou «reconstruir e ampliar o Palácio à imagem do estatuto e da importância que a família havia, entretanto, alcançado» (Fundação Casa de Mateus). Finalizado em 1744, o exemplar da arquitetura residencial barroca está entre as obras atribuídas ao renomado arquiteto italiano Nicolau Nasoni.
FUNDAÇÃO CASA DE MATEUS. A Casa de Mateus. Disponível: aqui.
Edificado durante a Idade Média, o mosteiro beneditino de S. Salvador de Castro de Avelãs (Bragança), do qual apenas sobreviveu a igreja, foi o edifício religioso mais relevante do interior de Trás-os-Montes durante o período. Documentado desde o século XIII, teve um papel decisivo no povoamento e organização regional fenómeno que a conceção do foral a Bragança veio reforçar. Da primitiva igreja encontramos ainda a cabeceira, com a abside e os absidíolos de planta semicircular, pertencentes à arquitetura românica cluniacense, sendo o único exemplar português construído em tijolo. O material escolhido e as janelas e arcadas cegas, de influência castelhana, conferem-lhe uma imagem ímpar na região.
O rio de Onor, situado no extremo norte do distrito de Bragança, é uma fronteira natural entre Portugal e Espanha. Nas margens dos dois países edifica-se uma só aldeia, de um lado Rio de Onor – povo de baixo –, do outro Rihonor de Castilla – povo de cima. Enquadram a paisagem as casas de xisto com varandas alpendradas e os espaços de uso comunitário, como o moinho e os campos de cultivo. A Casa do Touro, hoje musealizada, procura transportar o visitante para um período – até meados do século XX – em que a aldeia se destacava por uma identidade profundamente enraizada nas vivências comunitárias.
No interior da cerca do Castelo de Ansiães (Carrazeda de Ansiães), encontra-se a Igreja de S. Salvador, um dos mais interessantes exemplares da arquitetura românica portuguesa. Face à construção de uma nave única, o destaque encontra-se no programa escultórico do portal principal, cuja construção se aponta para o início do século XIII. Em Ansiães, podemos encontrar um dos quatro exemplares portugueses da representação de Cristo em majestade – o Pantocrator – rodeado pelos quatro evangelistas, imagem esta presente num importante conjunto de igrejas europeias e de cuja complexidade este exemplar mais se aproxima. No portal observamos a dualidade frequentemente representada no período românico entre o mundo celeste, esculpido no tímpano e nas arquivoltas mais próximas a este, com os apóstolos, e o mundo terreno, com imagens felinas e grotescas, na arquivolta exterior.
A Coudelaria de Alter Real foi criada em 1748, no âmbito da política coudélica de D. João V. Localizada na Coutada do Arneiro – Alter do Chão – propriedade da Casa de Bragança, tinha como objetivo criar cavalos de sela nacionais da melhor qualidade, em resposta à «identidade nacional e a caracterização plástica e artística da Picaria Real» (Alter Real). Tal convicção é mantida pelo seu sucessor, D. José I, a quem se deve a instalação e estruturação da Coudelaria, bem como o início da nova linhagem de cavalos de raça lusitana, os Alter-Real. Atualmente, a missão da Coudelaria de Alter Real prende-se com a preservação do património genético da raça e a criação e preparação de cavalos com destino à Escola Portuguesa de Arte Equestre. É, portanto, a mais antiga e notável Coudelaria em Portugal e reconhecida mundialmente como a que se encontra em funcionamento continuo no seu local de implantação original há mais tempo.
ALTER REAL. Quem somos. Disponível: aqui
A Igreja Paroquial do Azinhoso (Mogadouro), dedicada a Santa Maria, pertence a uma cronologia tardia do românico transmontano. Face ao corpo da igreja, destaca-se a fachada principal pela monumentalidade e cenografia, rematada por campanário com dois sinos, ao centro. Apresenta, ainda, algumas soluções alvo de curiosidade, nomeadamente a composição assimétrica da fachada, com o portal e a pequena janela desalinhados face à empena dos sinos. No interior, num espaço que anteriormente serviu de capela funerária de um prelado, podemos observar uma pintura mural com representação do Arcanjo São Miguel a pesar as almas. Conservam-se vestígios de um alpendre que ligaria as três fachadas, datado do século XV, período em que a igreja era já um centro de romagem regional. Atualmente, a Capela da Misericórdia, adossada à Igreja, acolhe o Museu de Arte Sacra.
A Sé de Lamego é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade, mas também da região duriense. A cidade de Lamego acolheu a construção do complexo catedralício a partir da segunda metade do século XII, registando sucessivas etapas construtivas. Recebeu uma primeira edificação durante o reinado de D. Afonso Henriques. Da arquitetura românica apenas resta a torre sineira, tendo o restante edifício sido substituído por uma construção gótica e manuelina, com posterior intervenção barroca. A igreja contava, ainda, com painéis no retábulo da capela-mor da autoria de Vasco Fernandes, ou Grão Vasco, como é conhecido. Dos vinte painéis que inicialmente compunham o conjunto, apenas cinco se conservam e podem atualmente ser encontrados no Museu de Lamego, localizado no antigo Paço Episcopal – nas imediações.
O património industrial e mineiro, importante marco cultural do século XIX e XX, encontra um espaço dedicado à temática no Parque Mineiro de Aljustrel, onde se procura preservar e mediar não apenas a componente material, como também um abrangente leque de práticas imateriais subjacentes, cruciais para conhecer a indústria e o contexto socioeconómico. O Parque abrange diversas instalações associadas à mina de Aljustrel, hoje desativadas, que urge preservar, como a antiga cementação, a central elétrica, as locomotivas, ou os malacates. Estes últimos, elevadores que subiam e desciam homens, máquinas e minérios, são elementos que visualmente se impõem na paisagem visual e emotiva de Aljustrel.
O Santuário de S. Salvador do Mundo (S. João da Pesqueira) ergue-se num local ermo, onde o património religioso, nomeadamente as capelas dos Passos da Paixão de Cristo, se fundem ao longo da encosta com a vegetação e afloramentos rochosos envolventes. No topo encontra-se o local de maior alcance paisagístico, onde as escarpas agrestes contrastam com os cultivos autóctones – as vinhas, os olivais e os pomares. No vale estreito vislumbra-se a Barragem e o Cachão da Valeira, local presente no imaginário duriense por associação à morte do Barão de Forrester.
O núcleo urbano de Castro Marim implanta-se numa colina, no topo da qual se encontra o castelo medieval. A vila é favorecida pelo posicionamento estratégico na margem direita do rio Guadiana, próxima ao mar e, assim, a Marrocos, e na fronteira com Ayamonte (Espanha). A sua localização levou a que esta assumisse uma posição de destaque, quer defensiva – a principal praça-forte algarvia a partir do século XVII –, quer comercial – enquanto porto. São também de salientar as salinas e as práticas associadas à atividade salineira, como elemento de destaque na paisagem e identidade locais.
O Cromeleque dos Almendres (Évora) transporta-nos para o universo da arquitetura megalítica, tipologia que se faz representar de forma mais expressiva na região de Évora. Descoberto em 1964, abrange uma extensa faixa cronológica, entre o Neolítico Médio e a Idade do Ferro. O Cromeleque é formado por 95 monólitos dispostos numa planta circular irregular. O complexo, tal como o encontramos hoje, é devedor do trabalho de investigação de Mário Varela Gomes e da sua equipa, que devolveram a grande maioria destes elementos graníticos à sua localização primitiva.
A Igreja de São Pedro das Águas, no concelho de Tabuaço, é uma das mais singulares igrejas portuguesas devido à sua implantação na margem do Rio Távora, sobre um estreito socalco do afloramento rochoso, ocupando toda a sua largura. A igreja românica, o único elemento que nos chega do primitivo mosteiro cisterciense, apresenta a fachada principal posicionada a uma curta distância do maciço rochoso e o corpo da igreja edificado no sentido do declive, adaptando-se à orografia do terreno, de modo a cumprir com a norma litúrgica que determina a orientação da cabeceira para nascente. Por sua vez, a cabeceira encontra-se a escassos metros da ravina. Entre o cuidado trabalho de arquitetura e escultura, distinguem-se os leões posicionados nos portais, cuja função simbólica era de vigiarem o templo.
Em pleno Vale do Varosa encontramos a Ponte de Ucanha, um importante exemplar da pontística medieval portuguesa. Com origem na segunda metade do século XII, a configuração atual, a ponte e a torre, devem datar do século XIV. Assumindo uma estrutura construtiva comum ao período, a de Ucanha distingue-se pela associação da torre à ponte, atuando não apenas como forma de proteção, mas também de controlo de passagem de pessoas e bens. A torre atuou, assim, como portagem até 1504, tirando vantagem das poucas passagens fluviais, para cobrar um imposto de travessia. Atualmente, integra a Rede de Monumentos do Vale do Varosa, responsável pelo impulso turístico e cultural na última década dos Mosteiros de Salzedas e Tarouca, o Convento de Santo António de Ferreirim e Capela de São Pedro de Balsemão.
Localizada na zona raiana, Almeida apresenta o mais distinto exemplar da arquitetura militar do século XVII em diante na região beirã. A sua posição fronteiriça estratégica conduziu ao investimento de D. João IV. A fortaleza abaluartada e praça-forte adota um formato hexagonal irregular e seis baluartes que no seu conjunto assumem a forma de estrela. Devido à sua função defensiva, as muralhas estão envoltas de um fosso que aumentava a proteção da vila, cuja entrada se fazia – e faz – através de duas portas, a da Cruz ou de São Francisco e a de Santo António.
O Santuário do Senhor dos Milagres de Perafita é um raro exemplar da devoção ao Calvário na região transmontana, onde se multiplicam os santuários marianos. Transformado no último quartel do século XVIII, por encomenda de D. Gaspar de Bragança, arcebispo de Braga, destaca-se na paisagem pela escala e pela qualidade da arquitetura. Com início no núcleo urbano, o Calvário tira partido da encosta para desenhar o seu percurso ascensional. Percorrendo a via principal, após a igreja, a subida ao sacro-monte é feita entre os rochedos que conduzem à Capela do Senhor do Monte, onde se faz representar a Crucificação de Cristo. Merece uma especial atenção o conjunto de tábuas votivas que se guardam no santuário.
O Centro de Alto Rendimento de Remo e Canoagem do Pocinho (CAR) foi construído para acolher atletas nacionais e internacionais de alta competição de desportos náuticos. Localizado no extremo norte do distrito da Guarda, o Pocinho apenas no século XIX viu a sua ocupação populacional a densificar-se, estimulado pela chegada do Caminho de Ferro, que permitiu a ligação com Barca d’Alva e restante região. Estabelecendo-se como um centro de referência na área, o CAR assume-se como um novo polo de atração e desenvolvimento da aldeia e da região. Construído num ponto alto da aldeia, a forma como o volume se funde e simultaneamente se destaca na paisagem, tirando o máximo partido da morfologia dos socalcos, tem valido ao arquiteto Álvaro Fernandes Andrade o reconhecimento nacional e internacional.
A aldeia de xisto de Piódão (Arganil), que integra os programas Aldeias Históricas de Portugal e Aldeias do Xisto, preserva a arquitetura vernacular da região. Entre os terrenos agropastoris da Serra de São Pedro do Açor, a aldeia surge encaixada numa escarpa sinuosa. Neste sentido, a malha urbana de Piódão adequa o seu traçado à orografia do terreno, caracterizada pela organização em anfiteatro. Da grande unidade arquitetónica entre as casas, existente quer na alvenaria, todas elas em xisto, quer na cobertura, destaca-se a igreja, caiada de branco e azul.
Pertencente à rede de Geoparques da UNESCO, no Parque Icnológico de Penha Garcia (Idanha-a-Nova) são visíveis uma sucessão de camadas do fundo do oceanos, que nos transportam para um período remoto, há 480 milhões de anos, quando a região era banhada por um oceano. Nas escarpas que ladeiam o Rio Ponsul, foram identificadas quase quarenta formas de comportamento animal, isto é, vestígios deixado pela atividade de seres marítimos. Constitui, assim, um património geológico ímpar, pela sua diversidade, preservação e forma como se encontram expostos.
Castelo Rodrigo é uma aldeia beirã que preserva importantes referências históricas e arqueológicas, entre as quais as muralhas, as ruínas do palácio de Cristóvão de Moura, a cisterna, o pelourinho, entre outros. Testemunho notável é a Cisterna Muçulmana localizada junto da linha de muralha, na zona ocidental de Castelo Rodrigo, atribuída ao século X, inícios do seguinte (BARROCA, 2008: 205). Parcialmente escavada no afloramento rochoso – com treze metros de profundidade – podemos observar duas portas de diferentes períodos, que nos mostram modos de extração de água distintos. À direita, na mais antiga, de origem muçulmana, encontra-se uma escadaria que permite descer e ter acesso à linha de água. Por sua vez, a porta correspondente a um acrescento gótico apresenta degraus que dão acesso a um balcão, a partir do qual os habitantes podiam, de forma mais cómoda, puxar a água verticalmente.
BARROCA, Mário Jorge (2008). De Miranda do Douro ao Sabugal – Arquitetura Militar e testemunhos arqueológicos medievais num espaço de fronteira. In Portugalia. Nova Série, Vol. XXIX – XXX.
O concelho de Carrazeda de Ansiães acolhe um projeto museológico centrado na participação e intervenção da comunidade. O Museu da Memória Rural atua não apenas na sua sede, em Vilarinho de Castanheira, mas no restante território municipal, através de núcleos focados em temáticas relacionadas com a Cultura Rural Imaterial da região. A museologia social e coesiva encontra no Museu da Memória Rural um modelo de exemplo, uma vez que alia uma relação de proximidade com a comunidade com a urgência de estudar, preservar e difundir o património local, potenciado pelo caráter didático das ferramentas tecnológicas e recursos multimédia utilizados.
Com uma paisagem natural singular, Paul da Serra é o maior e mais extenso planalto montanhoso da ilha da Madeira. Localizado no concelho de Ponta do Sol, a sua altitude média de 1500 metros permite observar na sua envolvente picos montanhosos, vales profundos e, em dias de boa visibilidade, a linha de mar das costas norte e sul. Entre a diversidade da flora, podem ser encontradas algumas espécies endémicas, como o alecrim da serra – Thymus micans – que dá nome à Levada do Alecrim, uma das várias levadas que permitem conhecer o território, pontuado por cascatas e lagoas. Destaca-se o aproveitamento hidroelétrico da Calheta, uma lagoa artificial, marca da contemporaneidade na paisagem verdejante.
Abrangendo os concelhos de Alandroal, Borba, Estremoz, Redondo e Vila Viçosa, eleva-se na paisagem alentejana a Serra d’Ossa. O coberto vegetal partilha a sua flora com as restantes regiões mediterrânicas, onde dominam as árvores de folha persistente, de pequeno porte e por vezes espinhosas, aqui adaptada às elevadas temperaturas que se fazem sentir. Entre a vegetação encontram-se algumas espécies de elevado interesse patrimonial, como o codeço, e tojo e orvalho de sol. O espaço verde é cruzado por trilhos, que permitem descobrir os interesses naturais e culturais da Serra, como construções religiosas, da qual é exemplo a Capela de São Gens, ou as arquiteturas da água, isto é, aquedutos, fontes, entre outros.
O Museu do Côa celebra a confluência de dois patrimónios mundiais: a Paisagem do Alto Douro Vinhateiro e a Arte Pré-histórica do Vale do Côa, esta última na matriz da sua edificação. Assume-se, assim, como uma porta de entrada para os visitantes terem em contacto com a arte rupestre, não pretendendo, contudo, substituir a visita in loco às gravuras, o verdadeiro museu. Projetado por Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, o enorme volume construído no topo da colina funde-se com a paisagem, confundindo-se à distância com um afloramento rochoso. O mesmo deve-se ao pensado tratamento da fachada que não apenas incorpora pigmentos minerais, como se assemelha às irregularidades orgânicas do xisto, alcançando, assim, a plena e dialogante integração na paisagem.
Com mais de três séculos de história, o Parque Terra Nostra, localizado no Vale das Furnas – São Miguel, Açores – reúne um património botânico distinto, podendo encontrar espécies endémicas dos Açores, mas também flora nativa de outros países, obra de jardineiros, horticultores e silvicultores vindos de Inglaterra e da Escócia para projetarem a visão dos sucessivos proprietários. O tanque de água, ex-libris do parque foi mandado construir pelo seu primeiro proprietário, Thomas Hickling, Cônsul Honorário dos Estados Unidos em São Miguel, em 1780. Foi apenas na década de trinta do século XX, aquando da abertura do hotel, que o Parque foi, reconhecido como centro termal.
A Estação Ferroviária de Vilar Formoso foi construída no século XIX enquanto estação término da Linha da Beira Alta, assumindo-se, posteriormente, como centro fronteiriço e linha internacional de maior tráfego. É de destacar o património integrado dos vários edifícios, nomeadamente os painéis de azulejo, introduzidos nos anos 30 do século XX. Da autoria de João Alves de Sá e executados pela Fábrica de Cerâmica Viúva de Lamego, apresentam-se como bilhetes postais de Portugal, com representações de paisagens, monumentos e motivos etnográficos de outros pontos do país.
Localizado a sul da aldeia de Pitões de Júnias, num estreito vale de difícil acesso, o Mosteiro de Santa Maria de Júnias tem fundação apontada para finais da primeira metade do século XII. De raiz beneditina, transitou para a Regra de Cister um século mais tarde. Do local de implantação se deduz que os recursos da comunidade monástica assentavam na pastorícia. Após o abandono no início do século XVI, retomou atividade na segunda metade desse século, seguindo-se um período de alguma prosperidade, com intervenções na edificação, conferindo à fachada principal o aspeto que hoje encontramos. Com a passagem do tempo apenas a igreja se conservou integralmente, pelo que do restante complexo monástico somente encontramos ruínas.
A Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas fortificações, preserva um dos mais notáveis exemplares conjuntos abaluartados europeus, formalmente reconhecido pela inscrição, em 2012, na Lista do Património Mundial da UNESCO, um dos quatro bens inscritos que podemos encontrar no interior do país. Devido à importante posição geográfica, na raia fronteiriça, o sistema fortificado sofreu uma continua evolução entre a época medieval e o século XIX, com especial ênfase para a grande reforma militar de meados do século XVII. Desta destaca-se o sistema de muralhas moderno, que complementa as três cercas urbanas preexistentes – duas islâmicas e uma medieval – assim como os forte subsidiários, Santa Luzia a sul, e da Graça a norte, ambos de traçado abaluartado. A coexistência de fortificações de diferentes tipologias, de grande escala e em bom estado de conservação, faz da cidade de Elvas um caso excecional a nível nacional e mundial.